segunda-feira, 21 de julho de 2008

Nós que aqui estamos por vós esperamos

Reconstruindo a história


O documentário de Marcelo Masagão (1999), nos leva a um passeio através do Século XX. Contando histórias de personagens reais e fictícios, no decorrer de acontecimentos relevantes e banais que caracterizam esse momento, destaca a agitação, transformação e massificação humana, assim como a grandiosidade e a nobreza de alguns feitos individuais.

Um fator ressaltado pelo diretor foi a descrição da nova sociedade e da nova ordem social decorrente. A inclusão da tecnologia na vida cotidiana, alterou radicalmente o modo como as pessoas encaram o mundo. Posso citar aqui a empacotadora de cigarro que se tornou telefonista e o homem que passou toda a vida apertando parafusos. Com a industrialização e a produção em série, os homens tornaram-se parte das máquinas nas quais trabalham e deixam a impressão de terem suas vidas sugadas por elas.

A difusão dos meios de comunicação de massa também trouxe conseqüências como a super valorização da auto-imagem. Durante o documentário houve três suicídios. O alfaiate sabia que sua invenção não iria funcionar, mas ele não poderia suportar a vergonha de não saltar como havia prometido. O kamikase viu-se diante de uma insuportável pressão social, ele não poderia conviver com a humilhação de permanecer vivo diante do chamado ao sacrifício pela pátria. O monge incendeia seu corpo diante da câmera e queima até as cinzas sem se mover para protestar contra a guerra... “A morte é leve como uma pluma, mas a vida pode ser tão pesada quanto uma montanha.”

Um ponto muito interessante do documentário se deve ao fato dele traçar o caminho inverso ao da nossa sociedade. Ele humaniza as massas mostrando que cada número citado em estatísticas corresponde a um indivíduo, e este ser humano tem uma história e, muitas vezes, uma família. Na cena que trata da bomba de Hiroshima ele destaca uma família composta por um carteiro, uma dona de casa e por duas crianças que morreram instantaneamente.

Ao mesmo tempo, a coragem e a sede de mudar o mundo é retratada em cenas de revoluções e protestos, na queima de sutiãs, na ousadia da minissaia, na queda do muro de Berlim, na luta de operários por seus direitos e na cena histórica e chocante do homem solitário na Praça da Paz Celestial que impediu a passagem dos tanques de guerra.

Toda a história é contada pelo ponto de vista dos mortos, no entanto, é justamente a vida dessas pessoas que nos leva a pensar que fazemos parte da sociedade e, dá mesma maneira, compartilhamos de suas alegrias, tragédia e rotinas. Desse modo, não nos imaginamos diferentes deles e, como eles, um dia estaremos igualmente mortos. Nossas vidas ou nossas mortes nos colocam inexoravelmente em um ponto onde também faremos parte da história, contribuiremos ou simplesmente seremos levados por ela.

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