domingo, 24 de maio de 2009

A Insustentável Leveza do Ser

Questões de semiótica.

Esse romance de Milan Kundera deve ser lido com atenção aos detalhes para não corrermos o risco de perder a essência da história. A parte mais interessante desse clássico está escondida nas entrelinhas, na análise que o autor faz com relação à invasão russa e à filosofia tecida sobre os relacionamentos que acontecem no decorrer da narrativa.

Sobre a invasão comunista, o personagem Tomas critica os personagens que apoiavam o regime dizendo que a ignorância não era desculpa para suas ações, afinal, Édipo furou os olhos quando descobriu o que tinha feito. Em outro capítulo o autor conta a história de um príncipe que se joga nos fios de alta tensão em um campo de concentração por não suportar a humilhação de ter de limpar a própria latrina. Ele começa esse capítulo com uma surpreendente definição de o que é kitsch: “misturar Jesus com merda”.

Para mim o mais interessante é observar a análise que ele faz sobre a forma como seus personagens encaram os relacionamentos. Segundo Milan Kundera os personagens vivem para os olhos de alguém, alguns procuram a multidão, outros o ser amado ou a família e, no entanto, a interpretação do que essas pessoas esperam deles está sempre equivocada. O caso mais grave de falha na comunicação é de Sabrina e Hans. O autor explica que os dicionários pessoais de um e outro não combinam por causa de suas histórias de vida, por exemplo, enquanto para Sabrina viver na verdade é ser sincero consigo mesma, para Hans viver na verdade é revelar sua vida privada ao público sem nunca mentir. Esse tipo de falha é muito estudada pelos comunicadores e fica uma dúvida se Milan está falando realmente sobre os problemas do casal ou sobre a comunicação em geral.

O ponto alto do livro está na forma como o círculo se fecha no final, quando encontramos a conclusão do autor sobre sua teoria de peso e leveza. Ele começa sua teoria no início do livro tentando descobrir o que é negativo, o peso ou a leveza, ao final ele volta ao assunto e conclui que os vínculos e obrigações nos tornam plenos, enquanto a leveza conquistada pela liberdade e independência pode ser insustentável.

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